A neurociência e a visão construtivista na educação

Por Clodoaldo Barbosa – Gestor do Conhecer Educacional

Reproduzo abaixo alguns tópicos conclusivos do artigo intitulado “Neurociência: como ela ajuda a entender a aprendizagem”, publicada na revista gestão escolar, da Editora Abril.

Abaixo de cada tópico segue uma observação comparativa entre a educação tradicional e a visão de teóricos clássicos da psicologia cognitiva ou educacional. 

O interessante é que a neurociência está comprovando o que teóricos clássicos da psicologia cognitiva já afirmavam há décadas.

O mais interessante ainda é que tais teóricos são críticos da educação tradicional. Ou seja, a neurociência está confirmando, por tabela, que a educação tradicional está ultrapassada. Entendam:

Emoção

“O professor, ao observar as emoções dos estudantes, pode ter pistas de como o meio escolar os afeta: se está instigando emocionalmente ou causando apatia por ser desestimulante. Dessa forma, consegue reverter um quadro negativo, que não favorece a aprendizagem.”

Obs 1: Será que a escola tradicional se preocupa com os alunos desestimulados? Alunos desestimulados geralmente dão trabalho em sala de aula. A alternativa mais comum é colocar o aluno para fora da sala ou mesmo expulsá-lo do colégio. O interessante mesmo seria criar estratégias para tornar o ambiente escolar mais atrativo, mais dinâmico, mais emocionante.

Motivação

“A escola deve ser um espaço que motive e não somente que se ocupe em transmitir conteúdos. Para que isso ocorra, o professor precisa propor atividades que os alunos tenham condições de realizar e que despertem a curiosidade deles e os faça avançar. É necessário levá-los a enfrentar desafios, a fazer perguntas e procurar respostas.”

Obs 2: Se você já estudou em escola tradicional então já sabe como é:  o professor passa um questionário com 10 questões, os alunos devem responder em casa e trazer no dia seguinte. Quando voltam o professor percebe que pouca gente respondeu. Então, ele responde no quadro e marca o dia da prova. No final da aula ele ainda diz: “Estudem pelo questionário, a prova vai ser tirada de lá”. No dia da prova os alunos estão com o questionário espalhado pelo corpo, é a famosa cola. Ou isso, ou ainda se dão ao trabalho de decorar as questões. A pergunta que fica é: Houve motivação para aprender nesse processo? ...Mas é com essa lógica que a escola tradicional funciona.

Atenção 

“Falta de atenção não é sinônimo de indisciplina ou de desinteresse por parte das crianças. Ela pode ser decorrente de um meio desestimulante ou de situações inadequadas à aprendizagem. Para evitar isso, o professor deve focar a interação entre ele, o saber e o aluno, refletindo sobre as atividades propostas e modificando-as se necessário.”

Obs3: Para despertar a atenção do aluno o professor deve focar a interação entre ele, o saber e o aluno, refletindo sobre as atividades propostas e modificando-as se necessário. O que significa isso? Simplesmente tornar o conteúdo palpável. É provocar o aluno para colocar a mão na massa, a fazer suas próprias descobertas, indagações, reflexões. Nesse sentido, é possível até desconstruir o objeto de estudo daquela aula e reconstruir sob a ótica do aluno, provocando nele o sentimento de autonomia e estimulando-o a pensar, perguntar, falar, provocar e se superar. A pergunta que fica é: Será que na escola tradicional há ambiente tão favorável para isso?  

Plasticidade cerebral

“O aluno deve ser ativo em suas aprendizagens, mas cabe ao professor propor, orientar e oferecer condições para que ele exerça suas potencialidades. Para isso, deve conhecê-lo bem, assim como o contexto em que vive e a relação dele com a natureza do tema a ser aprendido.”

Obs4: O famoso pernambucano Paulo Freire, ícone da Educação no Brasil e no Mundo, descreveu a educação tradicional como educação bancária. Por que bancária? Em comparação a um banco onde se deposita dinheiro, o aluno, na educação tradicional ou bancária, é concebido como alguém onde se deposita conteúdo. De modo inerte ou passivo, o aluno se obriga a ficar calado, copiando do quadro e ouvindo o professor falar. Quanto mais calado e mais copiar, melhor o aluno. A neurociência reafirma o que os críticos da educação tradicional já diziam: o cérebro é plástico, ou seja, ele se desenvolve ou atrofia na medida em que recebe estímulos ou não. Na medida em que é desafiado ou não. A pergunta que fica é: Será que os rituais da educação tradicional são desafiadores? São  favoráveis ao estímulo cerebral? Por que será que tantos adultos saem do ensino médio sem conseguir escrever um texto relatando o seu dia?

Memória 

“Aprender não é só memorizar informações. É preciso saber relacioná-las, ressignificá-las e refletir sobre elas. É tarefa do professor, então, apresentar bons pontos de ancoragem, para que os conteúdos sejam aprendidos e fiquem na memória, e dar condições para que o aluno construa sentido sobre o que está vendo em sala.”

Obs5: Memorizar não significa decorar. Nós memorizamos o que tem significado. Quanto mais emoção e prazer no que está sendo feito, maior a possibilidade de não esquecer aquele momento. Isso está diretamente relacionado a um ambiente educativo prazeroso, lúdico, dinâmico, onde o educando tem vez e voz, onde o educando concorda e discorda, debate e rebate, escreve e não copia, cria e recria. Isso tudo diz respeito a ser ativo no processo de aprenidizagem. E isso vai contra a educação tradicional. 

É preciso ousar, criar alternativas, sair do tradicional. É preciso participar ativamente do processo de aprendizagem. É preciso o aluno participar do processo de construção da aprendizagem. É preciso ser construtivista.